REVOLUÇÀO DAS PEDRAS
Sobre a cascalheira,o sol dava gargalhadas de cor.A temperatura era muito desconfortante .Os raios do sol ao incidirem sobre as pedras,esquentam-nas, as plantas desidratavam e murchavam,os insetos saiam dali buscando o frescor de qualquer outro lugar.Era uma provação aquele lugar.
As pedras ao receberem a luz do sol esquentam a si mesmas.Quando o sol vai embora,estas pedras começam a esquentar a noite,então os animais que fugiram do calor agora buscam o calor.Fugir e buscar,o jogo da vida das pedras.Há sempre a possibilidade de fugir e buscar.Ficando se queima,não ficando morre-se de frio.A dualidade envolve o universo .
Os cristais reuniram-se em bando.Alguns eram quebrados outros inteiros.Os inteiros não conseguem mostrar sua beleza porque um cristal só é cristal quando quebrado,mas em qualquer lugar ele é cristal.Embaixo da água,num mar de lama.Olhos que vêem cristais o reconhecem e se embelezam,quando estão quebrados.Quando nos quebrar? Os cristais se reuniram para tomar a decisão de embelezar a terra inteira e viver da emoção de amar. No alto da grande pedreira ,as pedras estavam expostas ao sol em confabulação .Eram hialinos cuja luz os atravessava quase intacta,eram os arroxeados,eram os da cor do coração ,eram rosas,eram os da cor do amor incondicional,eram os opacos,eram os foscos,e eram também os intactos,os que não foram quebrados e não sabiam qual beleza era a sua. Não saber qual beleza é a sua pode ser motivo de angustia para um cristal.Por fora é pedra marron ,sem formação de cristal,sem cor de cristal,somente parecido com um pedra qualquer.Mas mesmo sendo como uma pedra qualquer ainda é cristal,na sua constituição.
Os cristais queriam fazer a separação dos belos e dos feios.Grande temor tomou conta da pedreira.A segregação por beleza machuca os sentimentos das pedras. O maior e mais belo tomou a palavra.
Acusou as pedras brutas.
O mais transparente envaideceu-se de sua originalidade,o quartzo rosa gabou-se de sua emoções.
Assim pedra após pedra, todos deram a sua opinião ,pedras bela para um lado,pedras brutas para outro lado.Era a dor de quem vê.A visão pode enganar.
Quando o frio do inverno debruça-se sobre a pedreira ,as pedras diminuem de tamanho,mesmo que milimetricamente.É o fenômeno da contração .
Quando o sol surge as pedras esquentam-se e aumentam seu tamanho.É o fenômeno da dilatação.
As pedras crescem.Todos podem crescer,mesmo que não percebam seu frio ou seu calor.Tantos momentos de crescer e de não crescer,de diminuir e crescer,da chuva e do sol,dos animais que pressionam,dos microorganismos que atuam dia a dia,da vida ,até um dia,um dia a pedra de cristal abre um primeiro,imperceptível, trincado, na sua camada externa.A parte grossa de pedra abre-se ao exterior para a beleza sair.
A beleza irá salvar o mundo.
Ela deve habitar o exterior,ela deverá habitar o interior.Assim,ano após ano,séculos de crescer e de diminuir,o cristal se abre e mostra sua cor,sua transparência ,o formato de seus desenhos.A pedra , de bruta passa a ser bela, e partida.
Ela foi sempre bela. Agora reconhece-se .Cristais não tem a capacidade de verem-se como são por dentro.É necessário muito tempo de noite de frio e dias sol para se abrirem.A abertura para a beleza.A percepção da eterna beleza,desde sua constituição .
Ser belo.
A beleza é saber perceber-se como é.O respeito de ser como é.
E então o mundo das pedras continua a ser duro,quente,frio,embora repleto de muita beleza,para quem percebe a beleza.
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